Campinas, 28 de Março de 2024
CARLOS DORLASS
27/06/2022
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Ter a chance de continuar

*Carlos Dorlass

O conteúdo que partilharei com todos, baseia-se na experiência adquirida ao longo de muitos anos e ensinamentos recebidos de grandes educadores.

Inicio com uma reflexão: Porque temos escolas? Todos temos uma história. Cada um de nós tem sua história de vida.

Convido-os a pensar por um momento em sua própria história. Quem você é e de onde você veio? Quem são os seus pais e qual o idioma que você fala? O que te faz rir? O que o faz chorar? O que você gosta? E o que não importa?

Como escrevi anteriormente: Cada um de nós tem a sua história.

Cada criança que chega em nossas escolas é esse ser humano que tem uma história e que deseja contá-la, cada um ao seu modo. Elas vestem roupas diferentes, podem personalizar os seus celulares de diferentes modos, podem escolher seus programas de TV e filmes.

Cada uma dessas crianças, está à procura de alguém que queira conhecê-las, que se importam com elas e com que elas pensam. Têm suas metas e ideias sobre o que desejam ser e no que podem se tornar.

E ainda assim, todas as escolas são planejadas para que todas as crianças sejam iguais. Para que sejam tratados da mesma forma. Não procuramos saber quem elas são e não as vemos como indivíduos.

Nossas escolas são como fábricas, pois colocamos os alunos em linha de produção e pedimos a eles que sigam nessa linha. Inserimos peças e partes neles e esperamos que elas funcionem. Sabemos que para a maioria, isso não funciona assim e quando chegam ao final, ou até mesmo antes, apresentam defeitos. E por definição, como numa fábrica, eles são removidos. E daí vem o termo evasão.

Criamos um sistema que atende as nossas necessidades e que hoje está desatualizado. Todos já perceberam que o sistema está doente e atende os objetivos iniciais. Não falamos sobre isso, falamos sim dos professores. Falamos que os professores não trabalham o suficiente, que não são bons; isso não é verdade, pois, ao longo da minha vida nunca encontrei um professor que acordasse de manhã e falasse “como posso arruinar meus alunos hoje?”, “como irei prejudicá-los?”. Os professores que conheço, acordam todas as manhãs e pensam “como posso fazer o melhor por eles?”, “o que posso fazer pelos meus alunos que não têm recursos?”, “como posso ensinar com um sistema que não deseja que eu os conheça?”, “como posso ensinar com turmas enormes, livros repletos de conteúdos e cheio de regras?”. Ainda dizem que o professor não trabalha bem. Por que acham que esse sistema de escola funciona? Por que ficamos chocados com a evasão escolar? Nos indagamos por que os alunos são tão desmotivados? Por que os alunos não conseguem acompanhar as aulas?

Pense: E se criarmos escolas que focam na aprendizagem de cada aluno? Escolas que consideram as metas e sonhos dos alunos, que consideram os seus interesses e as suas paixões e engajando os alunos. E se criarmos escolas que diariamente estejam atentas efetivamente ao que os alunos necessitam naquele momento? Com o mesmo orçamento das escolas grandes e impessoais, de onde alunos saem e não aprenderam o que deveriam. Não seria melhor? Não serviria melhor a esses indivíduos?  Não serviria melhor as suas famílias, comunidades, cidades, estados e ao seu país?

Então, para planejar e fazer isso, começamos onde a maioria das fábricas de roupas, tecnologia e música para adolescentes o fazem: no design centrado no usuário. Se perguntássemos aos alunos “O que funcionaria para você?” Faríamos várias perguntas e planejaríamos a escola com base no que dizem e precisam. Acredito que para criarmos essa escola para esses alunos, precisaremos refazê-la. Não podemos apenas fazer remendos, precisaremos refazer todo o sistema. Todo o processo. O aluno deve ser o centro de tudo. O aluno deve possuir seu aprendizado dirigido. O aluno deve pensar e decidir o que irá aprender. 

Mas, por que, isso é importante? Já sabemos que existem muitas observações/dados sobre o fato de que esses alunos terão, em média, cinco profissões ao longo da vida. E das cinco profissões, três ainda não foram inventadas; não sabemos como serão essas profissões.

Precisamos ensinar o que eles precisam para que vivam a vida cheia de profissões que ainda não existem. Nenhum conteúdo é capaz de prepará-los para isso.

Estou convicto que os alunos devem dirigir seu conhecimento. Trata-se da aprendizagem autodirigida, na qual, se pode aprender sempre e ter as ferramentas para aprender além da escola. Não se trata do professor despejar conhecimento, embalar o aluno e dispensá-lo, esperando que esteja pronto. É preciso capacitá-lo. Na aprendizagem autodirigida os alunos têm objetivos. Eles sabem o que fazem e por que fazem. 

Os alunos desenvolvem mais autonomia, controle e responsabilidade sobre o que fazem. Isso é crucial. Aprendizagem autodirigida significa autonomia e responsabilidade.

A aprendizagem autodirigida se inicia traçando metas, depois elabora-se um plano para alcançá-las. O aluno deve demonstrar o que conhece e refletir sobre isso, se foi bem ou não, se precisa melhorá-lo. Para então, traçar novas metas. 

Nós os ensinamos a seguir regras, sentar-se em filas e levantar a mão. Nossas escolas não ensinam a traçar metas e planos e nem a executar. Na aprendizagem autodirigida, os alunos criam um plano de aprendizagem personalizado, que começa com a seguinte pergunta: “Onde você quer estar no futuro?”

A escola modelo fabrica. Não ajuda o aluno a mudar sua trajetória. Na escola autodirigida, o aluno sabe exatamente qual o percurso a ser seguido e sem risco de desistir. Simples!

* Carlos Dorlass é diretor geral do Colégio Marista Arquidiocesano, localizado em São Paulo (SP).

 


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