Campinas, 04 de Outubro de 2024
MEU ARTIGO 005 - UBIRATAN SANTOS
13/07/2020
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O COVID19, O SUS E OS SISNDICATOS
* UBIRATAN SANTOS


Não bastassem desemprego elevado, subemprego, retirada de direitos dos trabalhadores e aposentados e redução (quantitativa e qualitativa) das políticas públicas, que assistimos desde 2016, a pandemia pelo vírus SARS-CoV-2 vem impondo um profundo gravame aos trabalhadores, aos mais pobres, aos sem gordura pra queimar.

O primeiro e maior responsável por esse desastre é o governo Jair Messias Bolsonaro.

Estimativas revelam que, em poucas semanas, vamos superar 100 mil mortes e mais de dois milhões os infectados, nas contas oficiais, subnotificadas pela falta de diagnósticos.

Responsabilidade pelo desprezo com a doença e suas consequências, pelas mensagens e atitudes contrárias às melhores recomendações conhecidas para a prevenção, pela falta de coordenação nacional das ações de saúde, pela desorientação quanto ao tratamento, com o presidente funcionando como garoto cloroquina de propaganda, pelas limitações em valores e entraves burocráticos para que recursos cheguem ao povo necessitado, ao SUS, aos estados, prefeituras e pequenas empresas, e pela inexistência de uma coordenação de empresas para produzirem, na quantidade e a preços não escorchantes, produtos indispensáveis ao setor saúde, com a adicional decorrência de aumentar empregos e renda
para os trabalhadores.

Embora o vírus SARS-CoV-2 não discrimine a classe social para tentar se instalar e prosperar, no Brasil, a covid-19 teve início a partir dos que menos trabalham, os mais endinheirados, mas que exigem o trabalho dos outros, e se propagou para o conjunto da população, com maior impacto na morbimortalidade entre os mais pobres, negros, índios, menos escolarizados, trabalhadores e moradores das periferias desassistidas.

Ou seja, os que têm piores condições de moradia, alimentação, maior desemprego e subemprego, menores salários/rendimentos, os que mais usam os transportes coletivos lotados.

Afinal, trabalham ou vão à luta em busca de sustento pela falta de apoio do Estado.

As consequências da epidemia só não são mais danosas pela existência do Sistema Únicode Saúde (SUS), que está presente em todos os municípios brasileiros.

Embora desprestigiado nos últimos anos, o SUS tem capacidade de resposta rápida quando exigido e acionado, em todos os níveis de atenção.

Como faz parte do cotidiano no mundo, situação que bem conhecemos no Brasil, o registro da atividade profissional dos pacientes não é usual nos prontuários médicos e nas notificações aos serviços de vigilância (quando é feito não é disponibilizado), o que limita o conhecimento do impacto da pandemia nas diversas categorias de trabalhadores,
informação importante para orientar a prevenção.

Entretanto, para algumas categorias, alguns dados têm sido disponibilizados pela ação dos sindicatos e do Ministério Público do Trabalho.

Há milhares de trabalhadores infectados na área da saúde, em frigoríficos, entre os metroviários e rodoviários (motoristas e cobradores).

Quadro que reflete não apenas o descaso com a segurança no trabalho por parte dos responsáveis — patrões e poder público — como permite que prospectemos sobre a segurança que oferecem nos serviços que prestam.

Na saúde, com a falta de EPIs,  isolamentos adequados entre as áreas, normatização rígida para os profissionais e pela higiene dos ambientes, que envolve boa ventilação e adequada umidade dos ambientes internos.

Nos frigoríficos e transportes coletivos, se seus trabalhadores são infectados aos batalhões, os produtos dos primeiros e
os usuários do segundo, não estão livres da contaminação.

Medidas de higiene, distância entre pessoas e áreas, limpeza, ventilação e umidade adequadas, identificação e isolamento precoce de possíveis infectados podem ser notados entre os fatores favoráveis ao maior risco de transmissão.

Neste contexto, entendo que cabe um importante papel aos sindicatos na defesa do SUS e dos trabalhadores empregados, desempregados e aposentados das categorias que cada entidade representa.

A começar pela exigência de que todos os atendidos com diagnóstico de covid-19 tenham a sua situação informada ao respectivo sindicato, para que lhes possa prestar solidariedade, conhecer o modo real e atual de vida de cada trabalhador, ex-trabalhador ou aposentado. Também  ajudá-los  a receber auxílios e, os que ficaram com sequelas da doença, se recuperarem melhor e mais rápido.

Isto não tem nada a ver com sigilo profissional, trata-se de um direito de saber.

Os trabalhadores devem também exigir participar de comitês de acompanhamento das ações de saúde (não é necessário aguardar lei, decreto, o formal, neste caso, virá da prática legitimada) nas Unidades de Saúde das cidades (podem dividir responsabilidades entre sindicatos/categorias).

É para que conheçam o que está sendo feito e também  pressionem os governos a melhorarem os serviços que devem atender suas categorias.

Aliás, já as atendem em sua maioria, como os desempregados, os aposentados, ao filhos vacinados, no diagnóstico e tratamento de doenças que convênios (quando os têm) rejeitam, as ações de vigilância em saúde, como agora mais explicitamente com a covid, e nos tratamentos de doença crônicas, os canceres, bem como o fornecimento de medicações, inclusive as de alto custo.

Os trabalhadores devem exigir que todo paciente internado por covid-19, na alta hospitalar, seja acompanhado na unidade de saúde mais próxima da sua casa.

Essa unidade de saúde tem que ser informada da alta e da condição do paciente para que possa providenciar os atendimentos necessários à melhor recuperação de cada um, como alimentação, fisioterapia, exercícios, suporte à saúde
mental.

Se o paciente, após a alta hospitalar, precisar ficar um tempo fora do seu domicílio (por exemplo, em quartos de hotéis alugados pelas prefeituras ou em áreas dos hospitais de campanha) devido às suas limitações, a Unidade Básica de Saúde (UBS) e programa de saúde da família podem realizar essas tarefas, buscando integração com a educação, da assistência social e de esportes.

E, por fim, os trabalhadores precisam participar ativamente da luta contra a pandemia. Por exemplo, pressionando os governos a seguirem as recomendações de especialistas, a manterem o isolamento social até que quedas consistentes e seguidas do número de pessoas infectadas e mortas sejamo bservadas.

Participando de ações como estas, creio que os sindicatos poderão fortalecer, não apenas o SUS, como suas relações de classe e de solidariedade entre os trabalhadores das mais diversas categorias.

São Paulo 11 de Julho de 2020

*Ubiratan de Paula Santos (Bira) é médico. O texto acima resume a sua apresentação numa mesa redonda  no Dia da Luta Operária, comemorado virtualmente neste 9 de julho.

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