Campinas foi surpreendida na madrugada de 5 de junho por um fenômeno climático que causou muita destruição em vários bairros, mas com uma visível concentração no entorno do Alto Taquaral e São Quirino. Os ventos ultrapassaram os 100km/h e houve ocorrência de granizo em algumas regiões, mas não houve vítimas. O cenário de destruição deixado pelos ventos que duraram pouco mais de 20 minutos ainda hoje é visto pela cidade.
QUASE UM MÊS DEPOIS
Passados 21 dias da microexplosão, a cidade ainda contabiliza os prejuízos. A região do Galleria Shopping, nas proximidades da Rodovia Dom Pedro I (SP-065) foi bastante atingida. O Shopping ficou fechado por dez dias, sendo reaberto parcialmente (85% das lojas) no dia 15 de junho. O complexo de cinemas só conseguiu reabrir uma das cinco salas, e as demais abrirão gradativamente (sem perspectiva de data).
Na Vila Nogueira, o CRAS Recanto Anhumas ficou fechado até o dia 13 de junho, quando voltou a atender parcialmente. O local ainda está em reparos e aguardando material para recuperar o telhado, o forro e para refazer o cabeamento de internet e telefone. O Centro de Recuperação e Assistência Social atende mensalmente cerca de 250 famílias de 14 bairros do entorno. Destas, 114 participam de oficinas e grupos sócio educativos regulares, que foram temporariamente deslocados para instalações próximas cedidas por outras instituições.
Na Avenida Almeida Garret (Parque Taquaral) esquina com a Rua Padre Domingos Giovanini a escola canadense Maple Bear sofreu danos no muro e nos telhados das salas de aula e administração, em função da queda de árvores e postes. O local está em obras e só voltará a atender normalmente em agosto. Por enquanto as turmas foram divididas nas instalações do colégio vizinho Jaime Kratz e nas unidades do Centro Cultural Brasil/EUA de Barão Geraldo e Alphaville.
Na Av. Dr. Theodureto de Almeida Camargo (entre a Vila Nova e o Taquaral) o Educandário Eurípedes foi um dos prédios mais atingidos. Boa parte do telhado foi arrancado pelo vento, a chuva alagou e danificou o piso, e parte das instalações hidráulica e elétrica teve que ser refeita. O Educandário está com campanhas (pizza e conta para doações no banco do Brasil) para recuperar o telhado. Com isso, as 220 crianças da Creche Mãe Luiza ficam com as aulas suspensas até o final de julho, bem como os cerca de 300 jovens que frequentam o Projeto Aprendiz e outros cursos.
No Lago do Café, onde muitas árvores foram arrancadas, a Mostra Campinas Decor foi suspensa para reparos e só reaberta ao público em 24 de junho.
REGIÕES ATINGIDAS
Não há informações oficiais sobre onde começou nem quantas microexplosões ocorreram, mas o vento de mais de 100 km/h passou pelos bairros Taquaral, Alto Taquaral e São Quirino, seguiu pela rodovia Dom Pedro I nas proximidades do Galleria Shopping, chegando até o Distrito de Sousas.
Cerca de 1.900 árvores foram destruídas (muitas foram arrancadas inteiras, outras quebradas pelo meio), houve queda de postes e destruição de telhados, gerando um grande volume de entulho que ainda pode ser visto acumulado em algumas calçadas.
A Prefeitura contabilizou 6 mil toneladas de galharias e troncos retirados das ruas nas três semanas seguintes. Até o final de junho esse trabalho será mantido mas agora a prioridade é a retirada de raízes e troncos das árvores destruidas.
REPLANTIO
A pesquisadora Ana Avila, do Cepagri, explica que as árvores têm um papel fundamental na amortização do vento e precisam ser replantadas. “As árvores tombam porque a estrutura das raízes não está aprofundada, por isso é importante escolher as espécies adequadas, com raízes que fixem melhor e sustentem a estrutura da árvore”.
A Secretaria de Serviços Públicos anunciou que na primeira semana de julho cerca de 40 homens iniciarão o replantio de duas mil árvores em praças, calçadas e canteiros centrais das avenidas mais atingidas. São espécies próprias para arborização urbana e as mudas foram produzidas no Viveiro Municipal.
SOS CHUVAS
Um radar meteorológico será instalado em agosto no Cepagri / Unicamp e sua cobertura permitirá, entre outras coisas, que a Defesa Civil emita alertas de aproximação de temporais, chuvas, ventos e tornados na região (raio de 60 km). É o projeto de pesquisa batizado de SOS Chuvas, que receberá no período de 4 a 8 de julho a instalação dos pluviômetros, sensores e detectores de raios.
Com a instalação do radar em agosto, todo esse sistema vai coletar dados, gerar imagens e disponibilizar informações em aplicativos de celulares antecipando avisos de eventos severos na região. O trabalho será realizado em conjunto com a Pesquisa científica e a Defesa Civil.
EVENTOS FREQUENTES
Já em 2012, uma tese de doutoramento do geógrafo Daniel Henrique Candido defendida no Instituto de Geociências da Unicamp revelava que a ocorrência de tornados no Brasil é mais frequente do que se pensava. Entre 1990 e 2011 foram registrados ao menos 205 desses fenômenos meteorológicos em território nacional, número que coloca o país entre aqueles que mais anotam eventos do tipo no mundo. São Paulo foi o Estado mais atingido pelos episódios nesse período, seguido pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O QUE É A MICROEXPLOSÃO
O fenômeno climático foi inicialmente confundido com um tornado, mas o nome correto é microexplosão. A destruição provocada pela força da microexplosão corre em linha reta, enquanto o tornado é caracterizado por ventos rotacionais.
Pesquisadores do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) explicam que ele ocorreu porque a frente fria entrou em choque com uma massa de ar quente e úmida.
Neste choque o ar quente subiu e impulsionou o ar frio para baixo, provocando uma queda brusca de ar das partes mais altas da atmosfera para o solo em altíssima velocidade. Ao tocar o solo essa pressão na forma de vento se espalhou com força (como se fosse uma bomba).