Campinas, 28 de Março de 2024
MEU ARTIGO - ISMAEL ROCHA
08/08/2020
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MEU ARTIGO - * ISMAEL ROCHA


"Não dá para colocar os alunos em sala de aula em uma relação aluno-professor, como se nada tivesse acontecido", afirma o diretor do Iteduc


O especialista em educação Ismael Rocha alerta para o fato de que a crise gerou uma grande mudança na vida dos alunos, que passaram a usar a interface tecnológica. Segundo ele, a nova realidade não deve ser negligenciada


No último 29/7, foi aprovado em primeiro turno na Câmara Municipal de São Paulo o Projeto de Lei 452/2020, que estabelece o plano de retomada das aulas presenciais na capital paulista. O texto prevê aulas extras para todos os alunos da rede municipal e aprovação automática, entre outras medidas.

Na volta às aulas, é imprescindível que as escolas, educadores e alunos se preparem para enfrentar o “novo normal escolar”, diz Ismael Rocha, doutor em educação e diretor acadêmico do Iteduc (Institute of Technology and Education). Ele alerta sobre os cuidados necessários para um retorno seguro e com êxito para toda a comunidade escolar. Veja a seguir as dicas e orientações do especialista:

Jogos coletivos vão ajudar a restaurar capacidades de liderança e de relacionamento. Ismael Rocha considera extremamente importante que as escolas compreendam que os estudantes estão retornando de um período de crise e, portanto, podem ter sido impactados por situações de luto, perdas financeiras e grandes mudanças de comportamento, em virtude da covid-19.  “Não se trata da volta de um período de férias onde a maior parte chega com experiências positivas. Os alunos retornarão de um confinamento, no qual o comportamental e o relacional foram fortemente impactados”, explica. “Esses alunos passaram a se comunicar por meio de computador ou smartphone, sempre por uma interface tecnológica”, diz. Por isso, segundo ele, o retorno pede ênfase nas atividades coletivas. As competições, jogos, desafios e gincanas serão bem-vindos porque devolvem as capacidades de liderança e de relacionamento, bastante afetadas pela crise. “Não dá para colocar novamente os jovens em sala de aula em uma relação aluno-professor”, alerta. 

Fazer diagnóstico da capacitação dos professores para o ensino on-line é fundamental. Pesquisas recentes mostram que 8 em cada 10 professores não se sentem preparados para dar aulas online. “É importante que a escola desenvolva métricas para checar se cada docente está apto para ensinar on-line e, assim, possa fornecer capacitação para aqueles que precisarem”, explica o diretor acadêmico do Iteduc. 

O especialista cita que um dos meios de perceber se o professor está capacitado para o ensino remoto é observar o que ele desenvolveu durante a pandemia e o quanto as aulas têm sido motivadoras para os alunos.  “É importante verificar se a relação ensino-aprendizagem tem sido bem construída”, alerta o especialista. “Lecionar a mesma aula presencial no ensino virtual não funciona e é um grande erro”, conclui. “É necessário entender a nova linguagem e elaborar uma didática totalmente diferente. Uma boa maneira de saber se os educadores estão capacitados é perguntar se eles sentem que precisam de suporte para se familiarizarem com métodos de ensino on-line.” 

Avaliação virtual não pode ser confundida com provas-teste em casa. É preciso uma dinâmica completamente diferente para o ensino remoto. “A avaliação online é uma das competências que os professores ainda precisam adquirir”, alerta o diretor do Iteduc. “A apresentação de trabalhos, as provas em sala de aula e as tomadas orais sempre aconteciam na forma presencial, em contato com o aluno”, lembra. “Agora a realidade é outra. Só que muitos professores estão dando provas em formato de teste para estudantes fazerem em casa, e isso é um erro tremendo”, conta Rocha. “Os processos de avaliação online devem ser diferentes, com os alunos sendo desafiados e usando a linguagem do texto na interface virtual, entre outras estratégias. Não se pode medir o conhecimento por meio de um teste on-line. Temos que buscar outras linguagens, como por exemplo, desenvolver atividades coletivas, onde um aluno ajuda o outro nas provas e nos trabalhos, em projetos que vão aguçar a criatividade do grupo.” 

É preciso verificar como está a autoestima e a confiança depois de meses de isolamento social. Ismael Rocha explica que não é fazendo um grupo de testes na volta às aulas que se sabe se o aluno absorveu todo o conteúdo passado pelo professor nas aulas remotas. “Esse raciocínio é um desacerto”, diz o especialista. Ele acrescenta que é importante priorizar os aspectos socioemocionais, checando como anda a autoestima e a confiança dos estudantes, determinantes para o êxito do processo de ensino-aprendizagem. “Além de construir avaliações que explorem todas as competências exigidas, a escola precisa verificar se o aluno está se relacionando bem com os colegas”, explica ele. “O objetivo é descobrir se o aluno consegue ter criatividade individual e coletiva para colocar em prática aquilo que foi ensinado – e não necessariamente aprendido, no período que ficou em casa.” 

O professor necessita calibrar seus métodos pedagógicos para os novos tempos. Mas como fazer para checar se o professor é capaz de dar boas aulas virtuais? Segundo Ismael Rocha, o Iteduc (Institute of Technology and Education) desenvolveu métodos para avaliar o padrão das aulas on-line nas escolas. “Conseguimos fazer diagnósticos e descobrir onde o professor está com problemas no ensino remoto”, conta Ismael. Segundo ele, existe um pensamento bastante comum onde se acredita que basta simplesmente ligar uma câmera e gravar uma aula ou ficar diante do computador para apresentar o mesmo conteúdo que se dava presencialmente, o que é um equívoco. “O professor agora precisa saber de neurociência, entender processos de avaliação online, aprender sobre o uso de metodologias ativas e, ainda, usar gamificação nos processos de ensino-aprendizagem”, explica. “Ou seja: há inúmeras ferramentas que devem ser utilizadas daqui para frente.” Para as escolas interessadas em saber como seus professores estão em relação a esses conhecimentos, Rocha lembra que o Iteduc avalia se os professores estão aptos a trabalhar com essas ferramentas ou se precisam de orientação para poder desenvolvê-las nas aulas remotas. 

Com a disrupção da Educação, o papel dos pais, professores e gestores é fundamental para atuar em benefício da aprendizagem efetiva dos alunos.  “Os pais são peças-chave para auxiliar no socioemocional dos seus filhos e podem estimular a criatividade e a autonomia em casa”, diz Ismael. “Já os professores precisam de liberdade e coragem para elaborar um processo de ensino-aprendizagem novo e diferente daquilo que aconteceu até agora”, completa o diretor acadêmico do Iteduc. “E, por sua vez, os gestores devem garantir a capacitação dos seus professores para que eles possam construir uma relação de ensino do século vinte e um”, conclui o especialista. Ele reitera que os colégios necessitam fazer uma imersão nesse novo cenário. O modo antigo, segundo conta, não vai ser mais aceito nem por pais e nem pelas crianças, adolescentes e jovens. A principal orientação, então, é promover a capacitação da escola como um todo e se preparar para novos paradigmas. “O momento é o de ser disruptivo. A pandemia acelerou o fim do ensino tradicional”, conclui.
 

Ismael Rocha, é diretor acadêmico do Iteduc (Institute of Technology and Education), organização pioneira na capacitação de professores de educação básica para o ensino on-line e híbrido

É Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), especializado em avaliações escolares.

É mestre em Sociologia, com formação complementar nos EUA, Canadá, Inglaterra, China, Malásia, Chile e México. Conselheiro e Coordenador do Comitê de Sustentabilidade da World Vision Brazil, foi também diretor ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) por 18 anos.

 

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